Entre corpos, atos e tempos: performances escultóricas
GIL
Texto curatorial: Katia Salvany
Gil aproxima-se de uma dupla condição de criador: de um lado lhe cabe o lugar expandido de “performer designado”, termo cunhado por Claire Bishop (2012), direcionado para aqueles que ativam ações/performances na condição de criadores terceirizados, selecionados por uma determinada habilidade profissional ou física, com todos os riscos e diferentes graus de imprevisibilidades implicados, todavia GIL, artista e escultor, tensiona o que a princípio seria a condição de um “terceirizado” de segundo grau da ação, um intérprete tridimensional do corpo em ação no tempo, para assumir seu lugar como modelador de imagens.
Como protagonista autoral de suas esculturas, o artista vai além no processo de criar “situações construídas”, como afirma o artista indiano Tino Seghal (1976-), uma mistura entre realidade e ficção, com acréscimos de coisas, ações não comuns, onde sua subjetividade e expertise técnico escultóricos estabelecem diálogos sensíveis, com as artistas e performers Silvana Sarti e Yohana Oizume no projeto “Performances Escultóricas”, aqui apresentados no Estúdio Extraordinário em Itu/SP.
Nesse sentido, suas esculturas distanciam-se do que poderia ser entendido como reinterpretações tridimensionais das performances das artistas, o que por si só já seria algo interessante e inusitado, no entanto, suas performances escultóricas são autônomas, vão além, incorporam aspectos das ações e intenções do “programa performativo” (Eleonora Fabião), cujo enunciado norteia o motor da experimentação para entrar no campo das imagens imaginadas, fabuladas, pura sensação materializada.
Sabemos o quanto a performance, arte processual e duracional, situada nas experimentações do pós Segunda Guerra, deve às artes visuais, em especial às modalidades tridimensionais o seu lugar como expressão artística, como uma deriva lateralizada do pensamento escultórico e suas relações com a forma, a luz, texturas, tempo e espaço.
As esculturas de GIL, não participam das ações das artistas, não foram criadas para serem manipuladas pelas mesmas, elas são de um outro tempo afetado pelas reverberações, sentimentos, insights e pensamentos atravessados em GIL diante da imagem e do sonho do outro na ativação da ação. As performances escultóricas são como sobreposições temporais visitadas no processo e diálogo com as artistas, até que nesse amálgama um corpo se faz presente, impregnado das intenções das artistas mas é também pleno de subjetividades e construções criadas por GIL.
BISHOP, Claire. Delegated Performance: outsourcing authenticity. October 140, Spring 2012, pp.91-112, October Magazine Ltd & MIT/Massachusetts Institute of Technology.
FABIÃO, Eleonora. Programa performativo: O-corpo-em-experiência. ILINX-Revista do Lume. Nº4 (2013), artigo digital.
FERRETI, Ilaria. Tino Sehgal. Constructed situations. Juliet-Contemporary Art Magazine, 6 january 2021.
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A exposição estará em cartaz até o dia 15 de março de 2025
Curadoria: Katia Salvany
Produção e Montagem: Equipe EE
Fotografia: Flávia Gardner e Jerri Rossato Lima