FRENTE. VERSO. REVERSO
Eliane Gallo e Lucrécia Couso no Estúdio Extraordinário
A exposição com obras de arte de Eliane e Lucrécia, e a participação de Raquel Fayad no Estúdio Extraordinário em Itu/SP apresenta-se como continuidade e demonstração da capacidade criadora e sobretudo do despir das artistas visuais para enfrentar desafios.
As obras de arte estão disseminadas pelos espaços arquitetônicos do EE estruturando galáxias sensoriais e estéticas, partituras particulares que se entrelaçam para projetar sons plurais e dialéticos.
FRENTE às obras de arte e o conjunto delas a avançada capacidade das artistas de conceber, construir e exibir manifestos visuais e proporcionar ao público uma amálgama de possibilidades de leituras e de perfazer trilhas sensoriais e práticas.
VERSO nas poesias costuradas nas obras de arte, literal e/ou metaforicamente. As linhas costurando cada ponto em sequência de pontos costuradas; os sons que desbravam as literalidades, o não visível, mas também passível de ser dito, o gesto implícito no fazer;
REVERSO que sugere introspecção, que aponta a categorias do cotidiano, a memória, a história, o gênero, o tempo, o espaço, o corpo simbólico, as sombras, intertextos, política da arte e arte política; sensibilidades, convicções, o centrifugar conhecimentos e ações e vulcanizá-los à vida: a arte e suas absorções e implicações. Tanta pertinência para estes tempos.
Um outro espaço de cura. Da série Heterotopia (2024) de Eliane e Templanza (2014/2025) de Lucrécia são as duas instalações que servem de matriz para o projeto curatorial. As duas artistas visuais abordam os embates pessoais que aguçam seu fazer artístico como poemas condensados de subjetividades.
Um outro espaço de cura …., Manto de cura I (2024) e as obras Da série O quintal de meus avós (2025) de Eliane abordam o passado no presente, incluindo a I.A. São paisagens que não deixaram de ser porque a memória é inatingível e como inatingível é o poder categorizar dogmaticamente a pesquisa da artista visual: paisagens heterotópicas em obras de arte. Contudo, não deixam de ser paisagens que subjetivamente carregam as lavas vulcânicas da vida, das experiências, das convicções, do Eu e dos OUTROS.
Templanza (2014/2025) e as obras de arte Da série Andrômeda (2025) de Lucrécia borbulham em dialéticas [a]sintonias. Tempo, espaço e materialidades na absorção revistada de processos e de conceitos e projeções a partir de possíveis leituras que partem dos embates que fazem a artista conceber, construir e se despir de reverberantes desafios. Templaza se derrete sensorialmente, com o trepidar da música, pelas ranhuras dos textos costurados no tecido que aditam ao que quer ser dito e/ou interpretado pelo simbólico do vestido de noiva, agora manifesto visual.
Eliane e Lucrécia, pela articulação de ferramentas plurais propiciam a (des) conjunção de territórios – pictóricos, arquitetônicos, sensoriais – e revelam a ausência de fronteiras do autêntico fazer artísticos ao propiciar o surgimento de paisagens inéditas, construções fragmentadas e integradas.
As paisagens estéticas literais, construídas ou hibridizadas pelas duas artistas individualmente ou em parceria, chegam, nos envolvem e nos acolhem em sua luxúria, em seus devires, guiada pelo gesto singular e de criação ímpar de ambas as artistas. Assim, por um viés semântico reforça a pertinência com que as artistas intitulam suas obras de arte por outras tão potentes quanto, e em concomitância, a força formal e conceitual de suas poéticas; assim como a maleabilidade dicotômica de associação e escolha do simbólico ao particular de cada espectador.
Em FRENTE. VERSO. REVERSO as obras das artistas emergem como galáxias musicais com pulsações interdisciplinares incrustadas em suas irradiações pelo Estúdio Extraordinário, incluindo a performance na varandinha de Eliane, Lucrécia e Raquel. Possibilitando, assim, constatar a função social da arte de projetar o que nos atinge e também de atingir, de ser uma ferramenta de expressão do solapado individualmente relatado, empolgante e penetrante ao ímpeto coletivo.
PhD Andrés I. M. Hernández - Curador - São Paulo, inverno de 2025
A exposição estará em cartaz até o dia 09 de agosto de 2025
Curadoria: Andrés I. M. Hernández
Produção e Montagem: Equipe EE
Fotografia: Gessica Morais