DUO Transbordamentos
Texto Curatorial: Katia Salvany
Todo projeto nasce de uma complexa rede de desejos, projeções e expectativas que se manifestam nas intersecções das necessidades pessoais e coletivas de todos os envolvidos.
A exposição DUO Transbordamentos acontece nesse lugar inicial, fundante, determinado e corajoso do campo da arte, o espaço expositivo como palco, cenário, vitrine, laboratório, acervo, morada – enfim, local vivo, repleto de infinitas possibilidades e parcerias.
Em DUO, um e mais um, caminham no dois, suas polaridades e qualidades sensíveis e humanas vibram na relação, nas trocas equilibradas, no diálogo com sabedoria, nas parcerias.
Sabemos que sem obras de arte, o mercado e seus diversos atores não conseguem se movimentar, sem a possibilidade de um artista compartilhar sua produção a experiência estética não se completa no outro e é aqui que o transbordamento se faz, justamente quando a arte toca no outro naquilo que realmente importa e assim dá forma ao incontornável, ao que falta na falência das palavras. Obras são sínteses poderosas de sensações, discursos e inquietações, não raras, veladas, inconscientes e viscerais.
Para essa primeira exposição do DUO Espaço de Arte, em parceria com Estúdio Extraordinário, foram selecionadas artistas mulheres pela capacidade generativa e criativa de todas em seguir com suas pesquisas artísticas em meio às diversas demandas e cuidados de suas vidas e de terceiros, somente possível com uma rede mínima de apoio e parcerias.
Assim DUO se une a um terceiro elemento, o artista, e no três reverberam criatividade e todas as formas de expressão ao viabilizar um espaço e o encontro do público com artistas potentes em início de jornada.
Para Cleiri Cardoso, corpo, seiva, carne, vegetação e tempo são os disparadores de suas produções em gravura apresentadas na série “Corpo cultivo”. Já na série “Plantas de cura” as gravuras recebem molduras em crochet, uma analogia sensível ao cuidar diário.
Encontramos em Eliane Gallo a presença de um corpo amorfo visceral que se constrói pelos entrelaçamentos de fios de algodão e viscose coloridos. Suas esculturas têxteis remetem às imagens internas do corpo, mas e também às complexas formas da natureza.
Em Flávia Renault, histórias resgatadas são ressignificadas ora por meio de recortes, desenhos, colagens, sobreposições de cartas e documentos familiares, ora pela assemblagem, em pequenos formatos de objetos, peças de movelaria, vidros e folhas de ouro.
Gersony Silva investiga por meio de desenhos, esculturas e instalações a liberdade, o movimento, as asas muitas vezes presentes em suas obras são como manifestos do desejo de sonhar.
Nas obras de Raquel Fayad, a força da natureza e mulheres ancestrais apresentam-se em narrativas de vida, morte e renascimento, suas pinturas e aquarelas mesclam corpos de mulheres às raízes, linhas, fios, veias, rios e teias.